Rio 2016: cavalos e cavaleiros viram um só pelo sucesso

Marcio Jorge e Ruy Fonseca, do CCE, detalham relação com montarias e contam “mimos” antes da Olimpíada do Rio de Janeiro

Por Bruno GiufridaRio de Janeiro

No hipismo, a melhor forma física e técnica de um cavaleiro não é o suficiente para que um conjunto conquiste bons resultados em competições. O cavalo ou a égua precisam estar em sintonia fina com o atleta, em completo entrosamento. Sem isso, não há boas exibições, vitórias… É como uma relação entre melhores amigos.

Marcio Jorge e Lissy

Marcio Jorge faz carinho na Lissy (Foto: Reprodução)

E não são apenas os seres humanos, no caso os cavaleiros, que ficam ansiosos, têm suas necessidades e seus temperamentos. A Lissy Mac Mayer, por exemplo, égua do Marcio Jorge, um dos brasileiros que disputam o hipismo CCE na Olimpíada do Rio de Janeiro a partir deste sábado, tem seus momentos de, digamos, princesa.

O temperamento de Lissy é forte. Ela é ansiosa e geniosa. Em todas as três refeições diárias, por exemplo, precisa ter quatro opções diferentes de rações para comer – senão não fica satisfeita. Antes das competições, para aliviar a tensão, ela precisa galopar e perceber que “está tudo bem”.

– Ela é difícil, bastante quente. É a parte difícil dela na prova, porque ela fica nervosa e isso atrapalha um pouco. Meu relacionamento é muito próximo com ela. Estamos com ela o dia inteiro, treinando bastante, cuidando da comida, da passagem, olhando o fisioterapeuta, o veterinário… Vendo se está tudo bem. Isso nos aproxima muito dos cavalos e eles nos conhecem, da mesma maneira – explica Marcio Jorge, 41 anos.

Lissy Mac Mayer também é uma égua muito inteligente e desconfiada. Quando viaja, ela não gosta de ser a primeira a entrar no compartimento em que ficará no avião de carga: prefere ver um outro cavalo entrando primeiro. Na hora de sair, aí, sim, precisa ser a primeira a ser liberada. Caso contrário, fica bem chateada. Ah, Lissy também gosta de carinho nas orelhas!

Sei que ela vai ficar tensa e essa é a maior dificuldade dela. Se eu conseguir relaxá-la, dar um galope, mostrar que não tem perigo, ela entra para ganhar”
Marcio Jorge

Quem sabe de tudo isso é quem acompanha Lissy Mac Mayer diariamente há anos, como Marcio Jorge. A relação dele com a égua é como de pai para filha, de atleta para atleta. Quanto maior a sintonia, maior pode ser o resultado nas competições. Como fica nervosa, por exemplo, o cavaleiro precisa acalmá-la. É aí que o entrosamento entra em ação.

– Tem de tentar relaxar ela durante esses dias em que estamos aqui e na hora de entrar na arena. Sei que ela vai ficar tensa e essa é a maior dificuldade dela. Se eu conseguir relaxá-la, dar um galope, mostrar que não tem perigo, ela entra para ganhar. Há três semanas, ganhei o adestramento em uma competição com todos que vão estar aqui. E aconteceu exatamente isso. Ela entrou, ficou tensa e eu consegui relaxá-la – explica Marcio Jorge.

A história de Ruy Fonseca, outro cavaleiro que defenderá o Brasil no hipismo CCE na Olimpíada, e seu cavalo também é de longa data. O atleta recebeu a montaria de uma aluna em sua cocheira e a aceitou, apesar da idade avançada para um “cavalo top”, como ele lembra.

Ruy Fonseca e Tom

Ruy Fonseca monta Tom Bombadill Too durante Olimpíada (Foto: Alex Livesey / Getty Images)

Atualmente, Tom Bombadill Too é considerado um dos mais fortes cavalos da seleção brasileira que disputará os Jogos do Rio de Janeiro. Será a segunda Olimpíada dele. Ruy, o “pai babão”, até se emociona ao falar da montaria.

– A convivência do ser humano com o cavalo é importante, porque ele é um ser, acaba sentindo quem está perto dele, dos tratadores ao cavaleiro. Temos um conjunto desde 2009. É… É emocionante. Ele nos deu muito e ainda vai nos dar mais. Fico até emocionado. Ele é um cavalo de família. Não só dos proprietários, mas da equipe toda. É considerado o mais experiente (da equipe). Nos últimos seis anos, muitos cavalos já passaram e saíram por lesão, mas ele é o único que ainda está ali. É importante manter a sanidade dele. Eu aprendi a conviver com ele e ele me ensinou como chegar ao pico de trabalho – explica Ruy.

Com Mark Todd como adversário e técnico, o Brasil estreia no hipismo CCE na Olimpíada no dia 6 e segue na disputa até dia 9. As provas são disputadas nesta ordem: dois dias de adestramento, um de cross country e o último de salto. Marcio Appel (37 anos), Carlos Paro (37 anos), Marcio Carvalho Jorge (41 anos) e Ruy Fonseca (43 anos), além do reserva Nilson Moreira (40 anos), formam a equipe brasileira nos Jogos.

Fonte- Globo Esporte

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