Movimentação de ‘atletas’ do hipismo custará R$ 10 milhões; Evento-teste, em agosto, servirá para observação de condições sanitárias de Deodoro, após suspeita de doença
POR MIGUEL CABALLERO
A chegada de astros máximos do esporte como Usain Bolt e Michael Phelps ao Rio em agosto do ano que vem deverá arrastar, como de costume, um enorme séquito de fãs, curiosos e jornalistas. Para quem organiza os Jogos Olímpicos, porém, muito mais delicada e trabalhosa, e longe dos holofotes, será a vinda de outros atletas, de nomes desconhecidos do público e inusitados ou apenas comuns, como Voyeur, Hello M’Lady, Diva II ou Chico.
Fazer chegar a Deodoro em segurança e sob isolamento sanitário os melhores e mais caros cavalos do mundo é de longe a operação logística mais complexa dos Jogos, planejada com mais de um ano de antecedência e com custo estimado de US$ 10 milhões. Uma cifra alta, que se torna pequena quando vista sob a perspectiva do hipismo de alto nível: virão ao Rio 315 cavalos, a elite mundial, alguns deles com valor de mercado de até US$ 9 milhões. A definição do valor de cada animal obedece a uma série de variáveis, e muitos deles jamais são vendidos, mas é possível estimar que o patrimônio total nas mais de três centenas de cavalos que chegarão ao Rio supere a marca de US$ 325 milhões (R$ 1 bilhão).
— Sabemos que aqui não podemos economizar. A saúde e segurança dos cavalos é prioridade, não pode haver falhas. É uma operação de guerra, gigantesca, que envolve os ministérios da Agricultura, da Defesa, Receita Federal, Polícia Federal, Anac, Secretaria de Aviação Civil, Infraero, CET-Rio, COI, Organização Mundial do Comércio, é um mundo — enumera Fernando Cotrim, diretor de logística do Comitê Rio-2016.
Este infográfico detalha como se dará a operação: http://infograficos.oglobo.globo.com/esportes/rio-2016/como-sera-o-transporte-de-cavalos-para-as-provas-de-hipismo-na-rio-2016.html
São duas premissas principais: preservar o perfeito estado de saúde dos cavalos — e neste ponto trouxe preocupação o diagnóstico de mormo, uma doença infecciosa, em um cavalo que esteve em Deodoro no ano passado — e fazer um processo ágil, em que o nó principal é o desembarque no Galeão. Acostumados a viajar, os cavalos de elite são, porém, muito sensíveis a situações de longa espera quando estão fora de seu habitat, e o grande desafio é que eles fiquem o menor tempo possível no aeroporto.
‘DESEMBARAÇO ADUANEIRO’
Tecnicamente, acontecerá uma importação temporária dos cavalos. No último dia 23 de abril, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, assinou uma Instrução Normativa que regulamenta os trâmites e flexibiliza alguns procedimentos para agilizar o “desembaraço aduaneiro” dos equinos.
Tudo começa no aeroporto de origem, onde os cavalos, em duplas, embarcam nos pallets, um contêiner também chamado de estábulo aéreo. Cada voo deve trazer cerca de 30 animais, e quando o avião pousar no terminal de cargas do Galeão, será deflagrada a operação.
Fiscais do ministério da Agricultura fazem a leitura digital de um microchip instalado no animal que traz seu “passaporte biológico”, confirmando, junto de extensa documentação, que está em boas condições sanitárias. As bagagens de equipamentos, medicamentos e alimentos dos cavalos são inspecionadas pelo ministério da Agricultura e pela Receita Federal, enquanto os tratadores que vieram no voo têm de fazer o trâmite de ingresso no país com a Polícia Federal.
Os cavalos descem do avião direto para uma esteira que os levará aos caminhões, que são lacrados antes de seguir para Deodoro, sob escolta da Força Nacional de Segurança e de uma ambulância. Nas contas do Comitê Rio-2016, todo este processo no aeroporto deve durar apenas uma hora. E será repetido 11 vezes nas vésperas dos Jogos, a cada avião que chegar.
Com a experiência de ter sido diretor do Athina Onassis Horse Show, evento que reuniu no Rio cavalos da elite mundial, André Beck lembra a importância de se pensar em cada detalhe.
— O ponto nevrálgico é quando o cavalo está em estado de espera. Isso estressa o animal, pode provocar pequenos acidentes. O Rio-2016 preferirá levá-los direto para Deodoro, agilizando tudo. No caso do Athina, fiz diferente: aluguei 70 cocheiras e levei para o Galeão para os cavalos terem descanso e conforto quando desembarcam — diz André Beck, que não participa da operação olímpica. — Acho difícil toda a burocracia se resolver em menos de 1h30m. Mas não existe fórmula ideal, é uma logística complexa.
AMEAÇA DO MORMO
Apesar do detalhado planejamento, esta operação não poderá ser ensaiada. No evento-teste de hipismo que acontecerá no próximo mês de agosto, só participarão cavalos nacionais. Serão avaliados os circuitos de saltos, adestramento e cross country e virão ao Rio mais de 80 observadores da Federação Equestre Internacional, alguns deles atletas, que estarão de olho nas condições de isolamento sanitário de Deodoro.
Em fevereiro, os cavalos do Exército deixaram a área, seguindo o conceito de vazio sanitário. Em abril, surgiu uma fonte de preocupação: um cavalo da PM do Espírito Santo, que esteve em Deodoro até novembro de 2014, foi diagnosticado com mormo, uma doença infecciosa, causada por uma bactéria e que é bastante contagiosa, podendo afetar inclusive homens.
— Nos testes entre os cavalos do Exército, houve duas suspeitas: uma já descartada e outra que também deu negativo no primeiro teste. Nosso protocolo é bem rigoroso, aquele cavalo saiu daqui saudável — diz o tenente-coronel Minoru, comandante da Escola de Equitação do Exército.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/esportes/operacao-para-transporte-de-cavalos-o-maior-desafio-logistico-da-rio-2016-16513547#ixzz3elHyqEgW
Fonte: O Globo