Missão cumprida. Na tarde desse domingo, 2/12, no Haras Horse Cross, em Barretos (SP), a equipe brasileira formada por Henrique Pinheiro / Land Quenote do Feroleto, Serguei Fofanoff / Estiva TW, André Paro / CDC Superstar e Marcio Carvalho Jorge / MCJ Coronel sagrou-se campeã sul-americana no Concurso Completo de Equitação (CCE), garantindo, de quebra, a vaga do país para os Jogos Pan-americanos 2015, em Toronto, no Canadá.
As equipes do Brasil e Chile, ouro e prata no Sul Americano, garantiram aos seus países a vaga nos Jogos Pan-americanos de Toronto 2015; img: Claudia Leschonski
Após as provas de Adestramento, Cross-Country e Salto, o time Brasil levantou a taça com 199,99 pontos perdidos. Após o Adestramento, na sexta, o Cross-Country, no sábado, a prova de Salto desse domingo, 2/11, definiu o pódio individual e por equipes. Henrique Pinheiro e Land Quenote do Feroleto, que vinha na vice-liderança, e André Paro com CDC Superstar que virou em 9º lugar, fizeram pista limpa no Salto e Serguei Fofanoff com Estiva, 3º antes do Salto, fechou o com 8º pontos. O resultado garantiu a Henrique e Land Quenote do Feroleto seu primeiro título Sul -Americano fechando a competição com apenas 50,8 pontos perdidos.
O campeão sul-americano Henrique com Land Quenote do Feroleto em ação no cross
O vice-campeonato ficou com o chileno que após o Cross Country havia virada na liderança para a Final, mas uma falta no Salto, o deixou com o vice-campeonato, totalizando 51,0 pontos perdidos.
O vice-campeão sul americano Carlos Lobos com Ranco
O experiente cavaleiro brasileiro Serguei Fofanoff com Estiva TW garantiu bronze, 63,0 pontos perdidos. Marcio Jorge Carvalho e MCJ Coronel não competiram na prova final devido a uma queda no cross, mas o Brasil mesmo sem direito a descarte comemorou o ouro por equipes.
Henrique e Guega, ouro por equipes, ouro e bronze individual, devidamente condecorados; img: Claudia Leschonski
Da 4ª à 6ª colocação individual aparecem, respectivamente, o brasileiro Jesper Martendal com Land Jimmy, 68,6 pp, o argentino Luciano Brunello apresentando Erevan, 81,4 pp, e o chileno Carlos Villarroel com Paradigma, 83,7 pp. Além do Brasil, somente o Chile terminou o campeonato com uma equipe completa garantindo o vice-campeonato e a vaga para o Pan Toronto 2015.
Análise: O investimento e a evolução do CCE brasileiro por Claudia Leschonski*
A chuva veio, ainda que tardia, na noitinha de sábado com o cross já concluído. E após ela, veio nem tanto a bonança, mas uma manhã de domingo de atmosfera amena tanto no sentido meteorológico quanto no figurativo, em que cavaleiros e cavalos de cinco países sul-americanos mostraram uns aos outros que sim, o Concurso Completo evoluiu nos treze anos transcorridos desde o último Sul-Americano (2001, Lagoa Santa/MG, por sinal conquistado pelo brasileiro Marcelo Tosi).
O experiente cavaleiro Marcelo Tosi se apresentou com Honorat no Sul-Americano 2014 terminando em 12º lugar; img: Marco Lagazzi
Mais do que a rivalidade na disputa das medalhas, já havia de fato um clima de confraternização entre os representantes das diversas equipes, cimentado não apenas pela superação do adversário comum – a pista de cross com todas as suas dificuldades e riscos – mas também pela festa dançante de confraternização que encerrou a noite de sábado.
Ao longo do Campeonato, o favoritismo brasileiro não vinha apenas de sua condição de anfitrião, mas do grande impulso que o CCE nacional vem recebendo desde o começo de 2013 com os trabalhos do Ministério do Esporte e do COB, que por intermédio da CBH possibilitaram o “Projeto Olímpico do CCE”, dentre outras modalidades, sempre com vistas aos Jogos Olímpicos Rio2016.
Assim se fizeram possíveis a contratação de Mark Todd, Anna Ross Davies e Gabriel Marques Rodrigues como técnicos da equipe principal, que foi constituída ao lado da equipe de base coordenada por Ademir de Oliveira. Em menos de dois anos, a evolução brasileira foi claramente demonstrada na prova CCI 1* que aconteceu em paralelo com o Sul-Americano, onde as três primeiras colocações foram ocupadas por meninos de 16 e 17 anos de idade, todos atualmente integrantes da equipe de base do CCE: Ricardo Hypolitho / Land Ola Ola, Rafael Losano / Glock Pullman e Fernando Cruz / Barão. Os três garotos defenderam o pódio à frente de cavaleiros bem mais experientes, provocando demonstrações bem pouco britânicas de alegria dos normalmente circunspectos Mark e Anna. Está claro que, no que depende da ala jovem do CCE, o futuro do esporte no Brasil já está garantido para além dos Jogos do Rio.
Os campeões da Série 1 * mostraram a força da nova geração do CCE brasileiro; img: Claudia Leschonski
No entanto, o dono da casa e absoluto favorito ao ouro individual mostrou que ser anfitrião não é, por si só, garantia de sucesso. Um simples erro de julgamento durante a fase de cross, destes que podem ser de muita consequência no esporte, tirou da prova Marcio Jorge e seu Coronel. Marcio levou o desapontamento com a tranquilidade e soberania que lhe são características, ainda apresentando um de seus promissores cavalos jovens, Winner, na categoria 1*, e sabendo que o futuro caminha a seu favor, com o Pan-Americano e os Jogos Olímpicos no horizonte, e um plantel de excelentes cavalos que são preparados com muito cuidado por ele e sua equipe.
Marcio Jorge em ação Coronel MCJ
A equipe chilena foi a que veio de mais longe, trazendo apenas quatro cavalos. Foi o bastante para terminarem no segundo posto após o adestramento e finalizarem o cross sendo a única nação que não teve um conjunto sequer eliminado no percurso, adentrando assim a fase final ainda com sua equipe íntegra. Para muitos de nós que observávamos de fora, a impressão que ficou dos chilenos é que seu “chefe de equipe” é o maravilhoso alazão Ranco, tratado com merecido desvelo por toda a sua equipe, veterano de muitos Campeonatos internacionais, incluindo o Pan-Americano. Montado por Carlos Lobos, quebrou o frequente tabu em relação ao líder do adestramento costumar perder o primeiro posto após o cross; Lobos e Ranco adentraram na pista de salto com um desempenho irretocável nos dois primeiros dias, e favoritos ao ouro individual.
Carlos Lobos com Ranco durante a prova de Adestramento; img: Marco Lagazzi
Neste domingo especial, as palavras do “profeta”: o bicampeão olímpico Mark Todd se concretizaram. Ou ao menos três quartas partes delas. Ao longo dos preparativos do Sul Americano, Mark havia dito aos cavaleiros: “nossas metas para este campeonato são a medalha de ouro por equipe e as três medalhas individuais”. Mas a comunidade do CCE de todos os países participantes – Argentina, Chile, Uruguai e Brasil – também via Ranco com muito respeito e admiração que estando na liderança saltaria por último.
A nossa Land Quenotte, sob a sela de Henrique Pinheiro, vinha uma falta atrás – e entrou disposta e saltando com sobra, como se o forte cross do dia anterior, que eliminou quase a metade dos concorrentes, nem tivesse sido com ela. Henrique vibrou com o zero, mas de maneira contida, pois Ranco já entrava tranquilo e atento. No entanto, fez uma falta na linha final, leve mas o bastante para que o ouro individual mudasse de nação. Foi notável que nenhum dos muitos brasileiros comemorasse a altas vozes, gritos e palmas naquele momento – ao contrário, os amigos e fãs de Henrique foram encontrá-lo mais longe, ao lado da pista, onde, aí sim, a torcida brasileira explodiu em festa.
Assim, a premiação foi uma festa geral. Nas equipes confirmou-se a situação já delineada desde o primeiro dia, com o Brasil detentor do ouro, Chile prata, Argentina bronze e o Uruguai em quarto lugar. O pódio individual foi completado por Guega Fofanoff e sua jovem promessa Pavo Estiva Transwaal.
Em entrevista, Sir Mark se declarou muito contente com o resultado, e que é um bom passo em direção ao objetivo maior da boa colocação nos Jogos Olimpicos. Já Henrique Pinheiro estava feliz com a vitória, que veio não exatamente “de virada” mas foi confirmada apenas, literalmente, nos segundos finais do campeonato. Ele deu muito crédito à sua égua Quenotte, com uma personalidade guerreira, e que vem evoluindo cada vez mais, canalizando as energias para uma verdadeira parceria com seu cavaleiro.
July Purgly, Anna Ross e Mark Todd atentos ao cross; img: Claudia Leschonski
Agora, os olhos da turma do CCE se voltam para os eventos finais de 2014: o Campeonato de Cavalos Movos (que será no Haras Agromix nos 15 e 16/11), e o Campeonato Brasileiro, entre os dias 5 e 7 de dezembro. Depois disso, férias para a tropa, e 2015 já começará com vistas ao Pan-Americano de Toronto (Canadá), que será em julho. E os Jogos Olímpicos do Rio ficam cada vez mais perto…
Equipe Campeã – 199,99 pontos perdidos
Henrique Pinheiro / Landquenote do Feroleto
Serguei Fofanoff / Estiva TW
André Paro / CDC Superstar
Marcio Carvalho Jorge / MCJ Coronel
Equipe Vice-campeã – 223,7 pontos perdidos
Carlos Lobos / Ranco
Carlos Villarroel / Pardigma
Sergio Iturriaga / Versailles
Guillermo Garin / Ubago
Pódio Individual
Campeão Henrique Pinheiro / Land Quenote do Feroleto – BRA – 50,8 pp
Vice Carlos Lobos / Ranco – CHI – 51,0 pp
3º Serguei Fofanoff / Estiva TW – BRA – 63,0 pp
* Claudia Leschonski, Gestora de CCE da CBH
Fonte: CBH C. May com Claudia Leschonski; img: Claudia Leschonski e Marco Lagazzi