O hipismo é uma modalidade à parte na Olimpíada. Primeiro porque é a mais democrática, com homens e mulheres competindo juntos; segundo, porque a estrutura exige toda uma logística diferente; e terceiro, porque tem um custo altíssimo. E em meio a tudo isso, chamam a atenção a quantidade de mimos para os animais e uma dúvida que nem mesmo os profissionais envolvidos conseguem responder de forma semelhante: quem é melhor, o cavalo ou o cavaleiro?
O ESPN.com.br ouviu um cirurgião-veterinário, um cuidador e um atleta, todos envolvidos com os Jogos no Rio.
“Um bom cavaleiro que não tenha um bom cavalo não chega a ter bons resultados. Mas muitas vezes, um bom cavalo com um cavaleiro não tão bom pode chegar longe. É difícil ter um conjunto perfeito, mas a sintonia precisa ser muito boa”, opinou Thomas Wolff, diretor veterinário da CBH (Confederação Brasileira de Hipismo) e primeiro brasileiro a presidir a Comissão Veterinária de uma Olimpíada.
E cravou: “Eu diria que um cavalo representa 60% do conjunto e o atleta, os outros 40%.”
São três as modalidades do hipismo em 2016, adestramento, conjunto completo de equitação (CCE) e salto, e para o cavaleiro Carlos Paro, titular da equipe de CCE do Brasil, isso influencia na resposta à questão.
“No salto, por exemplo, dá para dizer que seja 60% a 40% para o cavalo, mas no CCE não é assim, o cavaleiro precisa ter muita habilidade, então, neste caso, para mim, esta porcentagem seria ao contrário”, afirmou à reportagem nessa terça-feira sentado na arquibancada do Centro Olímpico Equestre, em Deodoro, logo após uma sessão de treinos.
Já para Renderson Silva de Oliveira, que tem 23 anos e cuida do cavalo Xamã dos Pinhais, que será montado no Rio por João Victor Oliva, do adestramento e filho da ex-jogadora de basquete Hortência, é meio a meio.
“Ah, é o conjunto, né, são os dois, não tem jeito. Tem que ter uma sintonia muito grande do cavaleiro com o animal, porque, eu sei que é difícil para as pessoas acreditarem, mas o cavalo entende tudo. Então, se ele é bem tratado pelo dono, por quem monta ele, ele responde melhor”, disse o mineiro de Ituiutaba que trabalha nos cuidados com equinos desde os 16 anos.
Chegar a uma conclusão, como se vê, é muito difícil.
E os mimos?
São muitos, mas a reportagem procurou sair do convencional e tentou entender como é, de fato, a rotina dos animais que são preparados para competições como Olimpíada e Pan-Americano.
E concluiu que os bons tratos só parecem exagerados, porque, na verdade, eles são necessários, afinal, um cavalo que disputa a Olimpíada pode chegar a custar R$ 21,5 milhões (6 milhões de euros).
Doping
“Caros ou baratos, os cavalos são tratados como reis. Os bichos têm passaporte próprio, com descrição física detalhada, lista de competições disputadas e vacinas tomadas. Além disso, para prevenir e tratar lesões, recebem quiropraxia, sessões de massagem, fisioterapia, compressas de gelo e até acupuntura. Para manter o condicionamento físico, além dos treinamentos na pista, fazem esteira”, afirmou Wolff, presidente da Comissão Veterinária no Rio-2016.
Assim como os cavaleiros, os cavalos são submetidos a exames antidoping durante as competições. “O hipismo é a única modalidade em que se tem dois seres vivos competidos. Os dois são submetidos aos exames de doping. O cavaleiro pela WADA (Agência Mundial Antidoping) e o cavalo, pela FEI (Federação Equestre Internacional de Hipismo). Nos cavalos, sempre são feitos teste de sangue. E urina, sempre que possível”, detalhou o especialista de 64 anos que participou como veterinário de Seul-1988 e Pequim-2008.
Quando o cavalo testa positivo, o conjunto todo é desclassificado porque, pelas regras da FEI, quem responde pelo cavalo é o cavaleiro. Como responsável, o atleta pode ser suspenso. A punição vai de um dia a dois anos para substâncias usadas em tratamentos e de dois anos para cima para as drogas proibidas.
Trabalho com cubos de açúcar
O cavalo de João Victor, por exemplo, segue uma rotina bem disciplinada. No café da manhã, come ração + vitamina + capim verde e aí: “Uma maçã, uma cenoura, um cubinho de açúcar… É o alimento diferenciado que ele sabe qie é um agrado”, explicou Renderson.
E funciona como uma troca. Sempre que faz um movimento correto ou uma série deles, o animal é agraciado com algum mimo, de preferência doce. “É dar açúcar para ele, e ele sabe que está indo bem.”
No almoço, a combinação tem ração, só que um pouco mais light (a quantidade é menor), já que é no período da tarde que normalmente vai para o trabalho. Um pouco de cenoura também entra neste momento.
Entre 17h e 18h, é hora do café da tarde: ração + vitaminas + capim + cenoura + água à vontade na baia, já descansando.
Na janta, nada, é um pouco de água, uma cenourinha e só. “Eu não alimento à noite, tem gente que dá alguma coisa, eu, não”, seguiu Renderson.
E também tem dia de folga?
Se tem. “Ele tem um dia de folga, não faz nada no domingo. Só comer e dormir. No máximo, leva para caminhar um pouquinho com ele na mão. A gente não força para não expor, para evitar lesão.”
Ao todo, serão 11 voos para levarem todos os 236 cavalos para o Rio. Todos passaram pelo controle de passaporte no aeroporto, além de um exame de saúde. Os animais viajaram em classe executiva, com refeições especiais servidas por tratadores e um carrinho com baldes de água.
FONTE: ESPN
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