Por Diego Guichard, Bruno Giufrida e Danilo SardinhaRio de Janeiro
Recontar a história milenar do hipismo é convidar o leitor a brincar com a imaginação para reviver uma viagem através de distintas eras do tempo. Desde a Grécia antiga com competições no esporte que eram realizadas em Olímpia, com direito a corridas de bigas, passando pelos cavalos adestrados por fins militares até a caça a raposa em planícies inglesas. Sabem qual o laço que une todas essas características? Todos foram fatores curiosos que influenciaram e formaram a riqueza do hipismo que é visto nos dias atuais.
São memórias incríveis que ajudaram a gerar um maior controle entre homem e animal. Histórias que se misturavam com a ficção da mitologia e formaram seres como o centauro – com dorso de humano, além de corpo e pernas de cavalo. Narrativas que criaram heróis, como os conjuntos que lutam por medalha na Rio 2016.
Abaixo, o GloboEsporte.com reconta parte dessa fabulosa história para fazer a ligação com as três modalidades disputadas na Olimpíada: adestramento, salto e Concurso Completo de Equitação (CCE).
Desde a Grécia Antiga
Se os jogos se chamam Olímpicos, o embrião do nome tem a ver com a cidade grega de Olímpia. Como se tratou de época de lendas afloradas, em que Hércules e Zeus eram reverenciaNovodos nas disputas e as guerras davam tréguas para os campeões, não há uma certeza de data exata do início das competições. As primeiras referências se dão a 776 a.C, quando as corridas de bigas já colocavam homens e cavalos juntos em comuns disputas em circuitos ovais.
O primeiro método de adestramento surgiu com o intuito de preparar os cavalos para batalhas. Gregos foram justamente os precursores dessa técnica pois acreditavam que era necessário a boa relação entre o cavaleiro e o cavalo para encarar uma batalha.
Corridas de bigas retratadas no filme Ben-Hur, de 1959 (Foto: Divulgação )
Na era do Renascimento, o adestramento foi revitalizado depois de ficar um período esquecido. Em 1729, a técnica ganhou mais corpo com a criação da Escola Espanhola de Adestramento, em Viena. Foi lá onde foram criadas as bases modernas da modalidade.
A modalidade passou a fazer parte dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, na Suécia, em 1912. No Brasil, o adestramento chegou em 1922 com a vinda da Missão Militar Francesa. Quando a Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) foi fundada, a modalidade foi inserida.
Na Olimpíada, o adestramento é dividido em três etapas. Na primeira e na segunda, chamadas de Grand Prix e Grand Prix Special, respectivamente, os movimentos são pré-determinados. A última, que recebe o nome de Grand Prix Freestyle, os conjuntos têm liberdade para fazer os movimentos e as apresentações são feitas ao som de uma música.
Caça A raposa
Caça a raposa era praticada por nobres em campos ingleses (Foto: Reprodução )
As origens dos saltos tiveram um tom inglês de “sangue azul”. Talvez ali, no século XIX, nascia a ideia de um esporte de elite. Acompanhados por cães, nobres perseguiam raposas sob seus cavalos. Nessa missão de captura, o conjunto saltava distintos tipos de obstáculos naturais: troncos, pequenos riachos, cercas vivas ou o que viesse pela frente.
Na segunda metade do século XIX, a “brincadeira” ganhava as primeiras regras e contornos de seriedade. Esse nobres praticantes resolveram criar um circuito que reproduzisse as caçadas, e com obstáculos que seriam recriados com base naquelas buscas.
Em 1868, a Real Sociedade de Dublin promoveu provas de salto em altura e em distância. Como desafio, o conjunto tentava provar força, destreza, técnica, coragem (para ultrapassar barreiras), além de harmonia para cavalo e cavaleiro.
Modalidade mais popular o Brasil, o salto foi pioneiro em esportes com cavalo no país. O que se tem ideia é de que a primeira competição ocorreu de forma rudimentar em abril de 1641 na realização do “Torneio de Cavalaria” em Maurícia, hoje a cidade de Recife, Pernambuco. A iniciativa da disputa foi do príncipe holandês João Mauricio.
Em 1863, o esporte começava a crescer com a criação da Escola de Equitação de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O esporte ganharia força, no entanto, a partir de 1935, com o nascimento da Federação Brasileira de Hipismo.
O hipismo integra o programa dos Jogos Olímpicos da era moderna desde o ano de 1900, em Paris, com provas de saltos em altura e distância. Em uma pista que mede entre 700 e 900 metros, o conjunto deve transpor de 12 a 15 obstáculos, com variados graus de dificuldades, em dois percursos. O vencedor será aquele que errar em menor tempo possível.
Objetivos militares
O Concurso Completo de Equitação (CCE) também começou a ser disputado por volta de 1902, pela cavalaria francesa. O objetivo dos militares da França era mostrar que suas montarias, utilizadas em batalhas por territórios, por exemplo, eram boas em todas as atividades: adestramento (disciplina e força), salto (obediência e força) e o cross country, que é um circuito longo com diversos obstáculos – na época, comparado a um campo de batalha.
No início, apenas homens militares podiam disputar as provas de CCE, inclusive quando ela passou a fazer parte da Olimpíada, também em 1912, em Estocolmo, na Suécia. Essa também foi a primeira vez que a modalidade foi vista como uma competição, não mais como uma prova de capacidade das montarias para batalhas nas guerras.
Hipismo CCE teve origem por fins militares (Foto: Reuters)
Desde então, o esporte passou por muitas transformações: a partir de 1949, mulheres e civis passaram a praticá-lo; o adestramento deixou de fazer parte da lista de provas, mas voltou anos depois; o circuito de cross country sofreu alterações e passou a ser mais regular, sem tanta diferença de velocidade, exigindo menos dos cavalos.
Atualmente, como é disputado na Olimpíada, o hipismo CCE é assim: No adestramento, o cavaleiro precisa comandar o cavalo em movimentos obrigatórios, como passos, trotes e galopes, na área de competição plana. O cross country é disputado em um trajeto ao ar livre, com obstáculos que exigem algo em torno de 45 saltos dos cavalos – é preciso terminar o percurso dentro do tempo concedido e com o menor número de faltas. No último dia, na disputa de saltos, os cavaleiros precisam passar por até 12 obstáculos mais simples do que os de cross country.
Fonte- Globo Esporte