George Morris, um Exemplo de Democracia no Hipismo

“Venho dos Estados Unidos, um país com longa tradição democrática. Tomei uma decisão justa ao escolher os quatro melhores conjuntos. É um esporte de cavalos, não podemos nos esquecer disso. Preferi ser justo. Uma pessoa não pode conseguir a vaga simplesmente por achar que tem direito a ela.”

É assim que o treinador norte-americano George Morris, 78, explica à Folha de São Paulo a escolha de colocar o cavaleiro Rodrigo Pessoa, 43, como reserva da equipe de salto do hipismo brasileiro na Rio-2016. A decisão de Morris pode fazer com que Pessoa não dispute sua sétima Olimpíada, número que o colocaria como o brasileiro que mais representou o país no evento. Em entrevista à revista “Stud for Life”, Pessoa disse que não será “quinto de ninguém no Rio.”

Pedindo desculpas por “decepcionar o Brasil”, Morris afirma que “não é impossível” que Pessoa faça parte da equipe titular, mas ressalta que isso só acontecerá se algum outro membro da equipe de salto – a mais cotada a ganhar medalhas entre as brasileiras – se lesione.

“Você não pode dizer que ele está fora, cavalos e cavaleiros se machucam… Ele está na lista reserva. Vamos tomar a decisão de sua participação quando chegar a hora. Por mais desapontador que seja para o pai de Pessoa, para ele e para o Brasil, há quatro conjuntos em melhor forma atualmente. Você não pode ser injusto e tirar algum dos outros rapazes. Não seria democrático, justo e estaria em desacordo com o espírito esportivo”, explica.

Morris acrescenta que Pessoa se aborreceu bastante ao ser informado da decisão.

“Falei com ele durante o processo de decisão e no próprio dia da divulgação. Ele ficou muito agitado, agressivo, querendo-me convencer a entrar no time. Mas quem poderíamos tirar? Esportistas que têm tirado duplos zeros? (O cavaleiro convocado Stephan) Barcha teve duplo zero em Falsterbo e La Baule. Como tirá-lo? Ele tem um cavalo muito bom. Você tem que ser justo e dar chances a todos ou o Brasil nunca crescerá no esporte”, diz.

À “Stud for Life”, Pessoa questionou a escolha de Barcha: “estou ainda mais surpreso que irá um rapaz que saltou quatro GPs cinco estrelas em sua vida.”

O cavalo Ferro Chin, que vinha sendo preparado por Pessoa para a Rio-2016, teve que passar por cirurgia há um mês devido a cólica, ao passo que Status, outra escolha do cavaleiro, não vinha com resultados convincentes, segundo Luiz Roberto Giugni, presidente da Confederação Brasileira de Hipismo. Diante desses desfalques, Cadjanine é a égua que ele deixou em quarentena para a Rio-2016 e que, caso participe do evento, ele montará.

“Escolher alguém que acha que tem direito de fazer parte da equipe iria contra meu histórico. No meu país, ninguém acha que tem o direito às coisas (“sense of entitlement”). Venho de um país muito democrático, onde escolhemos a partir dos conjuntos. Você não pode escalar alguém só por conta de seu histórico de excelência. Pessoa é um dos melhores da história, assim como seu pai, Nelson, mas estamos falando de um esporte com cavalos”, analisa Morris.

Por fim, diante das críticas de Pessoa de que não seria um treinador “moderno”, Morris diz que o cavaleiro foi um dos que mais o incentivou a aceitar o cargo, e que seu perfil era conhecido de todos quando assumiu a equipe.

“Quando me escolheram, eles sabiam que eu sou velho, um treinador à moda antiga e de um país democrático. Preciso deste trabalho tanto quanto preciso de um buraco na cabeça. Não me entenda errado, estou feliz com ele, mas não preciso dele.”

Pessoa é o único campeão olímpico brasileiro no hipismo. Ele fez parte da equipe brasileira nas últimas seis Olimpíadas e recebeu medalha de ouro em Atenas, em 2004. Também ganhou medalha de bronze em Atlanta, em 1996, e Sydney, em 2000.

Texto de Guilherme Seto / Folha de São Paulo

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