Montarias do CCE (Concurso Completo de Equitação), uma das modalidades de hipismo, sofrem várias mudanças nas vestimentas e na maquiagem durante Jogos
Para ter sucesso no hipismo, diferentemente de muitos esportes olímpicos, o atleta não depende apenas de seu próprio desempenho. É preciso que a sintonia do cavaleiro com o cavalo seja fina, o mais próximo possível da perfeição. Por isso, não é apenas quem monta que precisa se preparar: os animais recebem um cuidado muito, mas muito especial mesmo, principalmente durante as provas de CCE (Concurso Completo de Equitação).
Vestimenta utilizada pelos cavaleiros durante o adestramento (Foto: Bruno Giufrida)
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A modalidade, que faz parte do hipismo nas Olimpíadas desde 1900, em Paris, na França, é considerada o triatlo do esporte. Isso porque os cavaleiros disputam provas de adestramento, cross country (circuito com obstáculos) e saltos – uma por dia. Antes do início de cada uma das competições, os cavalos recebem preparativos especiais.
A primeira prova a ser realizada é a de adestramento. Como a disputa tem características clássicas, os animais são até maquiados e ganham até penteados.
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– O cavalo é trançado, com a crista devidamente brilhosa. Temos shampoo, cremes, óleos… O pessoal faz desenhos na anca, na garupa do cavalo. Dependendo da confirmação do cavalo, a tratadora faz um X aqui, outro lá. As tranças também interferem muito, porque o cavalo que tem pescoço grosso, por exemplo, faz trança grossa. É tudo aparência, porque é uma nota subjetiva – explica a chefe da equipe brasileira de CCE durante a Olimpíada, Julie Purgly.
Colete utilizado pelos atletas para o cross country (Foto: Bruno Giufrida)
No dia seguinte, os cavalos sofrem diversas alterações na vestimenta. Isso porque a prova de cross country é muito mais “pesada” e oferece riscos aos animais, que podem se machucar em algum obstáculo durante o percurso. Depois da disputa, inclusive, os cuidados também são grandes.
– As tranças são desfeitas. O cavalo fica rebelde, aí tem a parte da segurança dele. Ele continua brilhoso, mas tem que passar a graxa. Usamos materiais mais resistentes, mais grossos, e protetores em torno do casco, porque ele (cavalo) está galopando em uma velocidade alta e pode tropeçar. Passamos a graxa desde a ponta até a parte de trás, para que o cavalo não se machuque se chegar perto demais do obstáculo – conta Julie.
– Dependendo do clima, temos um trabalho com capas, mantas, para mantermos o cavalo aquecido e não resfriar rápido demais (depois da prova). Depois do cross, o cavalo tem uma área de resfriamento, com ventiladores, água, e a gente tem vastas bacias com gelo para resfriar os cavalos ali. Eles são monitorados por uma equipe veterinária. Quando está normal, o cavalo é liberado para voltar às baias – completa a chefe.
Por fim, e decisiva, a prova de saltos. Antes da disputa, os cavalos passam por uma nova inspeção – a mais rígida, inclusive. Qualquer vestígio de sangue, que não seja de origem “natural” (como uma língua mordida, por exemplo, mas não por excesso de exigência do cavaleiro), tira o conjunto da disputa.
Este é o colete utilizado durante as provas de salto do CCE (Foto: Bruno Giufrida)
Por isso, todo o cuidado durante o cross country ganha ainda mais importância. Se a graxa for bem passada, a chance de o cavalo sofrer algum machucado que o impossibilite de disputar os saltos é menor.
– Voltamos a ter a maquiagem toda. Temos de impressionar ainda mais os juízes. O cavalo tem de estar totalmente brilhoso. Passamos até óleo no casco do cavalo. Nós temos uma outra peça na equipe que esquecemos, que é o nosso tratador. Ele é o cara que cuida do cavalo. Se não fosse ele ou ela, o cavalo não teria a performance que tem – conclui a Julie.
Até a preparação dos cavalos que disputam o CCE pré-Olimpíada é diferente. Como o cross country exige muito fôlego e condição física dos animais, eles fazem um trabalho específico de galope a cada dois dias. Isso, inclusive, fez os atletas convocados sequer participarem da cerimônia, em São Paulo, na última semana.
O técnico da equipe brasileira, Mark Todd, proibiu que Carlos Paro (36 anos), Marcio Appel (36 anos), Marcio Carvalho Jorge (41 anos) e Ruy Fonseca (43 anos), além do reserva Nilson Moreira (40 anos), participassem da convocação, que interromperia a preparação dos cavalos na Inglaterra. As duplas só chegam ao Rio de Janeiro no dia 4, um dia antes da primeira inspeção, marcada para o dia 5.
As provas de hipismo começam a ser disputadas no próximo dia 6, em Deodoro, e vão até o dia 19
Fonte- Globo esporte