Thereza e Manuel amarravam os filhos com lençóis na sela dos cavalos para andarem pela fazenda em Itu (SP) antes mesmo de as crianças caminharem. Hoje, cerca de 20 anos depois, os quatro cavalgam na disputa por vagas nos Jogos Olímpicos.
Os irmãos Thaisa, 26, Luiza, 24, Manuel e Pedro Tavares de Almeida, 22, são cavaleiros de hipismo adestramento, esporte no qual o Brasil tem lugar garantido para a equipe na Rio-2016 –quatro titulares e um reserva.
Luiza disputou as duas últimas Olimpíadas –aos 16 anos, foi a mais jovem competidora da história da modalidade nos Jogos, em Pequim-2008, e, quatro anos mais tarde, a única latino-americana em Londres-2012.
Ela e os gêmeos competiram juntos pela primeira vez em 2014, no Mundial da Normandia, na França. Antes, Luiza e Manuel representaram o Brasil na equipe do Pan de Guadalajara-2011.
Agora, após deixar o esporte por sete anos para se dedicar ao trabalho em bancos, a irmã mais velha, Thaisa, decidiu voltar a competir ao lado do restante da família. Tudo pela chance de, pela primeira vez, o Brasil ter quatro irmãos na mesma Olimpíada.
“Minha mãe era cavaleira de salto, por isso que todos nós começamos no salto antes de trocarmos de modalidade. Hoje, ela também compete no adestramento e disse que só não vai tentar a Rio-2016 para não tirar a vaga da gente”, brinca Luiza em entrevista à Folha.
O avô materno deles foi criador de cavalos mangalarga, o que incentivou a mãe a entrar no esporte. Já o pai é criador da raça puro sangue lusitano, a dos cavalos que eles competem atualmente.
“Em casa o papo é em ‘cavalonês’, ainda mais em épocas como estas. Mesmo quando eu não montava, estava envolvida com conversas de cavalos”, diz Thaisa, que deixou o esporte após perder por muito pouco a vaga nos Jogos de Pequim, em 2008.
RUMO AO RIO
No momento, Luiza treina na Alemanha, Thaisa está nos EUA, e os gêmeos, na Argentina. Mas todos estarão na Europa para, a partir de abril, competirem nos eventos que definirão a equipe brasileira.
Os cavalos que saem do Brasil precisam cumprir quarentena antes de entrar na Europa, por isso as paradas estratégicas de três dos quatro irmãos em outros países.
No adestramento, os conjuntos (cavalo e cavaleiro) precisam fazer índices mínimos estipulados pela FEI (Federação Internacional) e pela CBH (Confederação Brasileira de Hipismo) para estarem nos Jogos. Até o momento, apenas Luiza Almeida e João Victor Oliva atingiram ambas as marcas necessárias. Mas ainda há diversas provas até a convocação, que tem a data limite de 18 de julho.
“Já tive que assistir da arquibancada meu irmão competindo e o inverso também já ocorreu. Sofro mais quando tem um irmão meu nas pistas, torço mais por eles do que por mim. Mas para a Olimpíada não consigo me ver competindo sem o meu irmão”, diz Manuel, que nunca treinou longe de Pedro.
A cumplicidade é tão grande que, aos 10 anos, Manuel machucou a perna antes de uma competição de saltos e Pedro, sem ninguém perceber, ganhou a prova “disfarçadamente” pelo irmão.
“Acredito que ter alguém que te conhece plenamente dando apoio pode ser muito vantajoso nas competições. Não existe rivalidade entre nós. Os quatro procuram dar conselhos uns aos outros para alcançar o melhor resultado possível”, afirma Pedro.
“Também tem desvantagens, brigas bobas de irmão, tipo: ‘você pegou minha luva’, ‘anda, vamos atrasar’, ‘esse chicote é meu’, e por aí vai. Até algo triste, quando um de nós não consegue o resultado desejado”, diz Luiza.
Os cavalos titulares de cada um deles são Vendaval (Luiza), Toleirão da Broa (Thaisa), Xaparro do Vouga (Pedro) e Aoleo (Manuel).
Estes não são irmãos. Portugueses da mesma raça, são de linhagem sanguínea muito próxima, ou seja, alguns são primos. Parentes que a família Tavares de Almeida espera que façam sucesso nessa cavalgada rumo ao Rio.
FILHO DE HORTÊNCIA SE DESTACA NO ESPORTE
Filho do empresário José Victor Oliva e da ex-jogadora de basquete Hortência, João Victor Oliva, 20, é um dos favoritos a representar o Brasil no hipismo adestramento nos Jogos do Rio, em agosto.
Com a equipe brasileira da modalidade, ele foi medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em julho de 2015. O quarteto nacional ainda tinha Leandro da Silva, Sarah Waddell e João Paulo dos Santos.
Fonte: Folha