Frequentemente somos perguntado sobre a questão “porque alguém iria querer um exame post-mortem em um animal?”. Como uma veterinária patologista envolvida em um programa de necropsia de cavalos de corrida que apresentaram lesões após as corridas, recebe os mesmos questionamentos de ambos os profissionais ou leigos envolvidos na indústria do cavalo.
As pessoas entendem o porquê é necessário realizar o exame post-mortem após uma morte súbita, porem compreender a necessidade dessa avaliação em animais que mantiveram-se com lesões musculoesqueléticas catastróficas é menos claro.
Como todos os atletas, os Puro Sangue Inglês (PSI) de corrida estão sujeitos a um padrão consistente e repetitivo de desgaste por uso associado com seu sistema musculoesquelético. Uma analogia familiar para a maioria é o termo “cotovelo de tenista”. Para pessoa com apenas uma restrita familiaridade com espertes, a cirurgia de “Tommy Jonh” para o arremessador de basebol é um termo comumente reconhecido, assim como a lesão do manguito rotador é uma lesão familiar para os jogadores de futebol americano.
A associação entre lesões pré-existentes e acidentes catastróficos tem sido documentada por muitos anos, iniciando com o emblemático programa de pot-mortem instituído na Califórnia. Mais que 80% dos cavalos que sofreram de uma lesão musculoesquelética fatal tiveram uma patologia subclínica relacionada a fratura, indicando que o evento catastrófico final é o resultado do desgaste repetitivo e não uma acidente isolado causado por um “passo errado” ou “um buraco na pista”. Pelo exame cuidadoso dos cavalos, a lesão aguda e catastrófica pode ser bem documentada assim como a patologia de base. Além disso, problemas de saúde não relacionados com o sistema musculoesquelético também podem receber devida atenção.
Pesquisas sobre a mortalidade são feitas com os treinadores, os diretores da medicina equina e os tratadores após colapsos catastróficos. O objetivo dessas pesquisas não é achar um culpado, e sim educar e implementar estratégias para prevenir lesões similares de ocorrerem no futuro. A saúde geral e condição do cavalo, seu treinamento e registros de corridas além dos resultados obtidos no exame post-mortem são revisados na esperança de identificar fatores de risco para aquele cavalo e oportunidades de intervenção para o futuro. Além disso, é esperado que o treinador dissemine o conhecimento adquirido ao compartilhar de sua experiência com os outros, incluindo aqueles que trabalham em seu estabelecimento, amigos e colegas. Problemas de saúde que não estavam aparentes clinicamente mas são identificados no exame post-mortem pode ser abordado, com conversas informativas sobre coisas como hemorragia pulmonar induzida pelo exercício (EIPH) e ulceras gástricas. Em circunstâncias bastante complexas, o exame port-mortem traz objetividade as observações já feitas.
O principal objetivo de qualquer programa de exame post-mortem é de reduzir os riscos de lesão no cavalo, e também, dos tratadores e jockeys envolvidos. Colapsos catastróficos são a maior causa de lesões serias em cavaleiros, e em alguns casos trágicos, de morte. Enquanto o exame post-mortem pode ser “muito tarde” para o cavalo em questão, o valor para toda uma população de cavalos é inestimável. Nós devemos isso aos cavalos, cavaleiros, treinadores e a toda a comunidade envolvida com as corridas como um todo para abordarmos o problema. Colapsos são eventos inevitáveis. Nós podemos minimizar os riscos dessas ocorrências em cavalos através de um estudo objetivo e cuidadoso.
Fonte: Informativo Equestre