Cerca de sete mil habitantes, Bonfim fica na Região Central de Minas Gerais, a cerca de 80 quilômetros da capital Belo Horizonte. É lá que se mantém a tradição de um carnaval regional e que resgata a história de um vilarejo de colonização portuguesa. É o carnaval a cavalo, preservado por gerações. A cidade também se orgulha de ter uma escola de samba que, após um ano sem desfilar, retomou os preparativos para a folia.
Nascido em meados de 1840, o carnaval a cavalo tem como origem a cavalhada, uma festa religiosa que representa a guerra entre mouros e cristãos. A história do vilarejo diz que, em dado momento do passado, o festejo foi proibido por um bispo, revoltando a comunidade. Foi quando alguns cavalheiros decidiram realizar a cavalhada em uma data não religiosa. Surgia, assim, o carnaval a cavalo, é o que diz a cultura popular.
Nos tempos de hoje, durante o carnaval, as ruas são tomadas pelo desfile de cavalos, por moradores com fantasias ornamentadas e pela batalha de serpentinas. O ponto de encontro é a Praça da Matriz, e a data é muito esperada por todos. Os desfiles serão no domingo, segunda e na terça de carnaval, isto é, nos dias 26, 27 e 28 de fevereiro.
“É uma tradição de família. Panhei gosto com um tio meu que participava, comecei quando criança e estou está hoje. Pra mim e pra todos é a festa de referência do município”, disse o secretário Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Daniel Parreira, que é também cavaleiro e membro do Clube Carnavalesco Bonfim, que organiza a festa e tem por finalidade preservar esse patrimônio cultural da cidade.
Em meio à história regional, também há espaço para o samba. E o ano de 2017 tem clima de recomeço para a Unidos Outros Vez. Também estrela do carnaval, a escola esteve apagada em 2016, quando dificuldades financeiras quebraram a tradição da agremiação, que saiu apenas como bloco. Sem alas, apenas a bateria foi para a rua. São 32 anos de história e 31 “títulos de campeã”, já que é a única da cidade.
Neste ano, o samba enredo faz menção a Dom Quixote, personagem de Miguel de Cervantes. “Viajei nesses vales tão distantes/Fui Quixote de Cervantes/Para combater o mal./E hoje venho num cavalo enfeitado/Trago o peito emocionado/Pra cantar meu carnaval”, diz a letra. Ensaios abertos são feitos desde o início de janeiro, em frente à casa do mestre de bateria, que está na escola desde 1985. Silvana conta que Maurício Parreiras, de apelido Bolão, é responsável por todas as letras.
A figura do cavalo, tão marcante na cidade, também está no símbolo da escola. E é parte da história de Silvana, como de muitos outros moradores. “O carnaval a cavalo é uma tradição mais antiga, no qual desfilei por 16 anos. Fui a primeira mulher a desfilar no carnaval a cavalo, a brigar por este espaço”, disse.
Em número de componentes, toda a população de Bonfim poderia formar duas escolas do carnaval carioca – o maior do país. Mas, orgulhosamente, é com 200 integrantes que a Unidos Outra Vez vai sair no domingo de carnaval. Há mais de 30 anos, o trajeto é o mesmo, passando por casarões antigos entre a Praça do Pirulito e a igreja matriz. Segundo a integrante da escola, desfiles passados já atraíram cerca de 10 mil pessoas.
De 24 a 28 de fevereiro, também haverá shows em espaços públicos com duas bandas de repertório variado e bem popular. Além das marchinhas, haverá espaço para axé, sertanejo e outros. O secretário destaca que, no período, a segurança é reforçada pela Polícia Militar, além da contratação de seguranças particulares e brigadistas.
De acordo com Daniel Parreira, o município investe R$ 160 mil no carnaval deste ano, cerca de R$ 20 mil a menos que em 2016.
F- N1 Cavalos