Aos 55 anos, Jorge Antônio Ricardo admite não ter a mesma ansiedade e fome de vitórias do início de carreira. Segundo colocado no ranking mundial de jóqueis de todos os tempos, com 12.750 vitórias, o brasileiro precisa de 94 triunfos para alcançar o canadense Russel Baze, que se aposentou este ano, com 12.844. Radicado desde 2.006, portanto há 10 anos, no turfe argentino, Ricardinho reconhece que a aposentadoria inesperada do grande rival lhe trouxe enorme tranquilidade. Os últimos tempos, segundo ele, estavam sendo bastante tensos. Depois de alcançar por duas vezes o seu grande objetivo, que sempre foi o topo do mundo, a liderança escorreu pelas mãos devido a dois acontecimentos inesperados. Primeiro, o linfoma que o levou para as sessões de quimioterapia. E, superada esta etapa, logo em seguida sofreu o acidente grave em que teve diversas pequenas fraturas no cotovelo direito.
“Não foi fácil superar estes obstáculos. O meu duelo era com um grande jóquei, por que só mesmo um grande jóquei consegue vencer mais de 12 mil carreiras. O Baze mantinha um nível muito alto de competição. Montava quase no quintal de sua casa e em apenas quatro dias por semana, o que lhe permitia recuperação física e mental rápida nos outros dias restantes. Eu tinha que atuar sete vezes por semana, sem descanso, para poder ficar sempre perto dele. Por duas vezes pude ultrapassar, mas os problemas inesperados me fizeram ter receio de não cumprir a minha meta de encerrar a carreira como o jóquei mais ganhador de todos os tempos”, reconhece.
Casado com Renata e com duas filhas nascidas em Buenos Aires, Giovanna e Luana, Ricardinho vive tranquilo no bairro de Palermo, num apartamento confortável e bem perto do hipódromo. Há 10 anos na Argentina, ele se diz bem adaptado ao estilo de vida da cidade. A saudade do Brasil, dos amigos e principalmente dos seus outros dois filhos, Jorge Antônio e Nicole as vezes lhe faz pensar em voltar. Mas, ele acha que ainda não é a hora certa para isso. O turfe na Argentina está bastante competitivo, mas, segundo ele, ainda traz retorno profissional significativo.
“Os argentinos adoram o turfe. É claro que as coisas hoje são diferentes para mim em relação ao tempo em que aqui cheguei. Hoje a qualidade dos jóqueis ainda é muito alta, e eu estou mais velho, sem aquele pique para brigar palmo a palmo por espaço. A ausência do Baze também me trouxe certa tranquilidade. Já conquistei tudo o que era possível em termos de clássicos em toda a América do Sul. Ganhei estatística na Gávea por mais de 20 anos e aqui, fora de casa, fui o primeiro quatro vezes, num período em que o Pablo Falero, um grande jóquei, reinava absoluto. Hoje tem outros jóqueis de excelente nível, bem jovens e a procura de um lugar ao sol. Francisco Leandro é a bola da vez, com ótima fase, o Eduardo Ortega é o melhor jó quei paraguaio da atualidade. E ainda tem o Domingos, o Falero e o Villagra. É barra pesada para vencer com esta turma toda junta na raia!”.
Jorge Ricardo evita falar de uma possível volta ao Brasil. No seu planejamento de vida existe a ideia de se despedir no Rio de Janeiro, como ele sempre diz, o seu maior palco. Mas não sabe ainda se pode ser numa temporada, um mês, ou apenas uma reunião de despedida com grande festa.” Por enquanto não tenho pensado nisso. O meu foco profissional agora é apenas bater o recorde mundial. Espero manter a média de vitórias atual em 2.017. Se isto acontecer posso chegar a liderança do ranking até junho do ano que vem. Depois disso, eu paro para pensar no futuro. E aí decido sobre os próximos passos. Talvez ainda na raia por algum tempo. Ou talvez fora dela. Quem sabe?”, filosofa.
FONTE: Paulo Gama / RaiaLeve