Assembleia dos cavaleiros questiona mudanças nas regras dos Jogos Olímpicos e Mundiais

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Para particpar do IRJC com direito a voto, o cavaleiro precisa ter competido em Olimpíadas, Mundiais, Campeonatos Continentais, ter participado de pelo menos cinco Copas das Nações ou estar entre os 300 primeiros do ranking; img: Fabio Petroni

A Assembleia Geral Anual do Internacional Jumping Riders Clube (IJRC), organização que reúne os melhores cavaleiros de Salto do mundo, teve lugar em Genebra, Suíça, em 9/12, e questionou duramente as mudanças promovidas pela FEI no regulamento das Olimpíadas e dos Jogos Equestres Mundiais.

O IJRC foi criado em 1977, justamente a partir da ideia de cooperação entre cavaleiros, organizadores e federações, no intuito de elevar os esportes equestres. O ex-cavaleiro brasileiro Nelson Pessoa foi um dos fundadores, ao lado de nomes de peso como Raimondo D’Inzeo, Paul Schockomöhle e David Broome, entre outros.

No entanto, o assunto principal discutido durante a Assembleia Geral do Clube foi a falta de diálogo e respeito em relação aos cavaleiros por parte da Federação Equestre Internacional (FEI), representada na ocasião pela sua Secretária Geral, Sabrina Ibáñez.

Abrindo o evento, o campeão olímpico de Londres 2012, Steve Guerdat, deu voz aos sentimentos dos atletas em relação a forma com que a FEI tem lidado com a opinião dos cavaleiros no que diz respeito às mudanças nos dois maiores eventos do esporte equestre. “Não podemos mais aceitar. Faz dois anos que lutamos contra essas mudanças, desde que o novo formato foi proposto. Estamos todos juntos, a grande maioria contra isso. Estamos tentando falar a respeito para que talvez possamos mudar isso, ou pelo menos abrir o debate – como deveria ser em uma democracia. Mas nunca foi dado um passo em nossa direção. Nunca nem foi considerado o que temos a dizer”, continou o suíço. “Mudanças são feitas e os cavaleiros não são consultados. Em relação aos Jogos Mundiais, ficamos sabendo pela imprensa que as regras tinham sido alteradas. I sso não é democracia, não é como nosso esporte deve ser governado.”

O IJRC encaminhou a FEI em 17/11 uma carta aberta expondo o ponto de vista dos cavaleiros e dando sugestões alternativas para as mudanças. Segundo Guerdat, a resposta do presidente da FEI, Ingmar de Vos, foi desrespeitosa e não considerou em nenhum momento o que estava proposto na carta. “Merecemos mais respeito. Acredito que não exista federação sem os cavaleiros e o que temos a dizer deve ser ouvido”, finalizou Guerdat sob fortes aplausos de seus colegas.

Os atletas também expressaram suas preocupações com o fato do novo regulamento aumentar muito o número de equipes – de 15 para 20 – dizendo ser difícil conseguir 20 equipes que tenham condições de competir em um nível tão alto, sem pôr em risco os cavalos ou cavaleiros. “Dizer que todos os times terão um nível olímpico mostra falta de conhecimento”, disse Guerdat.

Quando a Secretária Geral da FEI argumentou que as mudanças eram necessárias para seguir a Agenda 2020, principalmente no que diz respeito à universalidade, o irlandês Cian O’Connor tomou a palavra. “Vimos alguns países no Salto nas últimas Olimpíadas tendo resultados muito ruins. Isso é bom para o esporte? Com essas alterações você vai trazer pessoas para o esporte que: a) não tem condições de saltar o percurso ou b) o armador vai ter que baixar o nível.”

O canadense Eric Lamaze – campeão olímpico em Pequim 2008 – também expressou preocupação sobre como o novo formato trará para as Olimpíadas pequenos países com cavaleiros pouco experientes. “Saltar é perigoso. Alguns cavaleiros vão tentar fazer uma coisa para a qual não estão preparados”, disse.

“Isso não faz nosso esporte aparecer bem na TV. Ridiculariza o esporte completamente”, comentou Lamaze quando Ibáñez argumentou que a questão das equipes com apenas três membros é a única maneira de admitir novos países nos esportes equestres, que esses países atrairiam novos telespectadores e que o Comitê Olímpico Internacional precisa do dinheiro das redes de TV para subsistir. “Concordo que novos países tenham o sonho de competir nas Olimpíadas, mas existe uma série de passos a serem cumpridos antes disso”, continuou Lamaze. “O novo formato não faz sentido, vai matar nosso esporte. A chance de descartar um resultado é o que deixa a competição por equipes mais emocionante.”

A amazona Meredith Michels-Beerbaum foi ainda mais longe. “São os Jogos Olímpicos, não caridade. Deveria ser o ponto mais alto do nosso esporte.” A renomada atleta de Adestramento, Isabell Werth, também foi convidada à Assembleia para, junto com a amazona Monica Theoderescu, apresentar a perspectiva dos atletas da modalidade, que também foi afetada pelas alterações. “Quem quer assistir 25 conjuntos marcando 66%? As pessoas que entendem do esportes vão pensar “Porque eles estão nas Olimpíadas?”, disse Theoderescu.

Por outro lado, os cavaleiros apontaram o fato de se sentirem excluídos também por suas Federações Nacionais. “O que as Federações estão fazendo não reflete a opinião dos seus cavaleiros”, disse a Diretora do IRJC, Eleonora Ottaviani. Esportistas dos Estados Unidos, Canadá, Irlanda, entre outros, se mostraram muito descontentes por suas Federações terem votado em oposição as suas opiniões, expressas em reuniões e documentos.

O sistema de votação da Assembleia Geral da FEI também foi muito criticado. Todas as 134 nações votam com peso igual, independentemente de sua representação no esporte. “134 nações votaram”, explicou Guerdat. “60 delas não organizam nenhum tipo de evento equestre, 17 não têm cavaleiros e 24 sequer têm cavalos registrados.” Por outro lado, países com grande tradição equestre como Alemanha, França e Holanda – que têm 13.141 cavaleiros competindo em alto nível com um total impressionante de 2.180.000 membros federados, não esquecendo os 21.270 animais registrados – contam com o mesmo peso de voto que países sem nenhum atleta ou cavalo registrado, quanto mais competindo em alta performance.

Em relação a isso, Ottaviani peguntou porque Federações Nacionais sem participação nos esportes equestres têm direito a voto, argumentando que outros esportes não aceitariam países em sua Federação Internacional sem um mínimo de participação efetiva. “No mês passado em Tóquio (durante a Assembleia da FEI), tive várias reuniões com Federações com pouca experiência. E percebi que a vida de jovens cavaleiros e suas famílias está nas mãos de pessoas que não possuem conhecimento dos cavalos”, argumentou.

A Secretaria Geral da FEI, ao final, respondeu com promessas de melhorar o processo de governo e integração dos cavaleiros nas decisões daqui para frente. Ela convidou o Clube a formar uma delegação para discutir que melhorias podem ser feitas de agora em diante para maior envolvimento dos atletas. No entanto, seu discurso não chegou a impressionar os atletas.

No que se refere a forma como os cavaleiros vão lidar com a difícil situação agora, o francês Kevin Staut encorajou todos a participarem ativamente de modo a tentar reverter as decisões tomadas pela FEI, expressando sua posição através da imprensa e das mídias sociais. “Espero que nossa opinião seja comunicada e ouvida”, finalizou.

Fonte- Brasil Hipismo / World of Showjumping e IRJC

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