Morreu Alcides Morales, o treinador com maior número de vitórias em atividade no turfe

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Até o seu último suspiro, com 88 anos, Alcides Morales respirou com intensidade a paixão pelos cavalos de corrida. Internado para fazer pequena cirurgia, devido a fratura óssea, ele fez questão de acompanhar, ontem à noite, pela televisão, a corrida de Grande A Morales, cavalo de propriedade do Stud J. Lírio Aguiar, que recebeu este nome em sua homenagem. Ficou feliz com o segundo lugar. Receberia alta hoje. O procedimento foi um sucesso. Mas surgiram algumas complicações no pós-operatório, e hoje (26), às 7 horas da manhã, ele não resistiu. Depois de mais de 60 anos de profissão, Alcides Morales era o treinador com maior número de vitórias em atividade no turfe brasileiro, quase 3.000. E o segundo colocado do ranking em todos os tempos, atrás apenas de o utra lenda do turfe nacional, Ernani de Freitas.

Alcides Morales era casado com Dona Edna e deixa dois filhos, Ângela e Alcides Morales Filho, ex-jóquei. Por suas mãos passaram alguns craques inesquecíveis, entre eles Anilité e Bowling, ambos do Haras Santa Ana do Rio Grande, responsáveis por duas vitórias no Grande Prêmio Brasil em seu currículo. Treinou também Asola, Mensageiro Alado, Belle Valley e Bat Masterson, entre tantos outros campeões. Sempre um dos primeiros a chegar na raia, às 5 horas da manhã, e frequentador assíduo da cocheira no período da tarde, Alcides Morales era um profissional de comportamento irreparável e motivo de orgulho para os seus colegas e amigos na convivência do dia a dia.

O popular “Parrudo”, era um homem extremamente generoso. Nunca negava conselhos, orientações ou dicas para os seus colegas de profissão quando eles o consultavam. Profundo conhecedor da arte de preparar os cavalos para competir, tinha como característica o zelo, o capricho e o aparato como os mínimos detalhes dos acessórios de montaria. As capas de cabeça sempre combinavam com a farda da coudelaria que os cavalos defendiam. O escovador tinha que manter o pelo do seu cavalo sempre reluzente. E até os panos brancos tinham que estar impecavelmente limpos no trato diário dos seus pensionistas. Roberto Morgado Neto, que no início de carreira, fez estágio com o “Seu” Alcides, como ele o chamava, falou da importância do treinador.

“Era um profissional de absoluta excelência, um homem generoso e de grande coração. O aprendizado como ele foi muito importante na minha carreira. A sua maneira de trabalhar com os cavalos era a mais simples possível, sem jamais inventar. Apesar da idade avançada, ele procurava sempre se manter atualizado no dia a dia. Com certeza deixa um grande legado para as novas gerações”, falou emocionado.

Na Argentina, Jorge Ricardo ficou chocado com a notícia do falecimento de um dos seus grandes mestres. Ricardinho disse que sempre considerou Alcides Morales, como um segundo pai, tal a importância dele nos seus primeiros passos na profissão. “Depois do meu próprio pai, Antônio Ricardo, seu Alcides e seu Nahid, pai do Venâncio e do Robertinho, foram as pessoas que mais me orientaram nos meus primeiros passos na Gávea. Ganhei muitas corridas com os cavalos treinados por ele. Era um homem simples, mas de muita sabedoria. Era curioso, que na hora de montar, ele nunca me dava ordens. Repetia sempre: “Boa sorte. Você conhece os adversários melhor do que eu e já sabe o que fazer”.

O treinador Álvaro Castilho, que conviveu com Alcides Morales quase diariamente, pelo fato deles dividirem os animais de propriedade do Stud J. Lírio Aguiar, afirma que uma das coisas que mais chamavam a atenção no veterano treinador era a sua preocupação de orientar os jovens, tanto treinadores, como jóqueis e aprendizes. “Acima de tudo, o Parrudo era um homem de caráter. Eu trocava ideias com ele sempre. Mais experiente, a gente podia perceber a sua eterna vontade de distribuir a sua vivência como as novas gerações. Era um homem bom”, resumiu com a voz embargada.

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