Em um piquete, cavalo e cavaleiro não estão livres de padecer um sem fim de situações inesperadas. O objetivo deste texto é falar claro sobre situações mais comuns, mas não menos desagradáveis no que diz respeito ao Cavalo, propondo algumas atitudes importantes.
No nosso dia-a-dia no trabalho e em situações profissionais distintas, costuma-se dizer que a melhor defesa é o ataque, mas isso pode ser interpretado como: vamos ser pró-ativos e preventivos, ou seja, imprevistos fazem parte e podem nos trazer grandes dores de cabeça e gastos inesperados, portanto, ter atitude significa – vamos prevení-los.
Do mesmo modo que aplicamos isso nas nossas vidas, os cavalos quando trabalham podem sofrere pequenos acidentes, pequenas feridas, arranhões, lesões, desgaste ou fadiga muscular, distensões, como se passa inclusive com qualquer atleta.
E por seu tamanho o cavalo exige um manejo especial. Uma boa manutenção das instalações do Haras ou Rancho, manter camas limpas e secas, banhá-los depois do trabalho, oferecer comida de qualidade, manter uma relação de um tratador para cada dez cavalos, de modo que possa cuidar da higiene diária de cada cavalo (escovação, rasquear, limpar ranilhas), para oferecer melhor qualidade de vida e reduzir estresse do regime de baia confinado ou semi-confinado.
Mas, mesmo assim, caso ocorra um incidente, temos de estar preparados para encarar o desafio.
Enfrentando Acidentes
Quando ocorre um acidente, a primeira coisaa é evitar o pânico e avaliar a gravidade do fato. Assim podemos classificar os problemas que o cavalo pode sofrer em dois níveis:
a) Os que necessitam a presença do Veterinário
b) Os que podem ser resolvidos pelos cavaleiros e nesse caso, os mesmos precisam ter noções de primeiros socorros.
Assim, é necessário chamar o veterinário quando o Cavalo:
a) Não demonstre seu caráter habitual, com um comportamento estranho, pescoço cabisbaixo, não se alimentando como de costume, denotando dor ou desconforto
b) Produza uma salivação espumante fora do normal
c) Sua temperatura corporal seja superior aos 38 º C
d) Se perceba uma desorientação ou perda de equilíbrio, assim como cambalear quando caminha a passo ou pareça atordoado.
e) Apresente uma hemorragia que não cesse.
f) Apresente um inchaço expressivo em seus membros.
g) Mostre um endurecimento do pescoço.
h) Se deite fora do habitual
Em outras ocasiões, o Cavalo apresentará pequenos problemas que não requerem os serviços urgentes do veterinário. Para trata-los será imprescindível ter na propriedade uma mini-farmácia equipada para primeiros socorros, que deve ser cuidada pelo gerente do haras ou diretamente pelo criador observando-se para que nenhum produto ou medicamento esteja vencido, estragado pelo tempo de armazenagem ou pela umidade.
Dicas para uma mini farmácia básica:
– Iodo solução a 10% ou Iodopovidona para curativo de feridas superficiais.
– Agua oxigenada 10 volumes.
– Degermante para lavagem e assepsia de machucados na pele ou
– Liquido de Dakin
– Algodão hidrófilo, esparadrapo e compressa de gaze
– Bolsa de gelo para tratar de inflamção de boletos ou problemas osteo musculares das extremidades.
– Pinças e tesouras.
– Sulfato de magnésio.
– Termômetro anal.
– Toalhas de papel
– Vaselina.
-Faixas crepe e bandagens
-Pentabióticos
-Anti-inflamatórios não esteroides
-Soro anti-ofídico
-Vitamina K ou estanca sangue
-Soro fisiológico
-Soro Ringer com Lactato
-Equipos para aplicação do soro
-Pomadas anti-inchaços como “calminex” “NGF”
-Equipamento para duchas nos membros inferiores
-Soro Anti-tetânico
-Pomada contra mordidas de morcegos
-uma caixa de agulhas com medidas diferentes (intramuscular e venosa) e
-uma de seringas de 10 e 20 ml
Ocorrências mais comuns
Os tratadores de Cavalos enfrentam casos indesejáveis com alguma frequência. Alguns dos mais comuns são:
1. Arranhões ou esfolamentos causados pelo equipamento mal colocado, (selas-cilhas etc)
Todo cavalo de trabalho está sujeito a sofrer lesões superficiais e cutâneas causadas pelos equipamentos. (Leia o post sobre escolha do arreamento correto).
Estas lesões podem ser provocadas pela barrigueira, pela cilha, esfloamentos pelo peitoral, embocaduras estreitas, ou muito apertadas ou mal colocadas, ou lesões pelo trabalho intenso em terreno pedregoso, sem uso de ligas de trabalho, etc.
Este tipo de feridas ou esfoladuras começam a ser curadas com higiene local e assepsia, logo após o banho dado ao fim da sessão de trabalho. Lave bem o local com água e sabão neutro, antes de medicar, começando pelo uso de agua oxigenada, ou detergente ou na pior das hipóteses, liquido de Dakin; posteriormente, será importante avalir quais os pontos de contato do equipamento com o corpo do Cavalo e tomar providencias para não voltar a machucar o animal.
Podem ser usados protetores emborrachados, barrigueiras de neoprene, forrar o peitoral com feltro, ou lã grossa, para que no próximo trabalho não se machuque novamente. Seria o mesmo que vc ir jogar seu futebol e usar um calçado- ou tênis com tachinhas dentro e no dia seguinte saber que ia calça-lo de novo.
2. Pequenas Feridas
Os cavalos, devido a seu tamanho podem se ferir em várias situações, exemplo, baias com portas estreitas, porteiras com pontas de pregos ou parafusos,
caminhos irregulares ou pedregosos, vegetação espinhosa em pastos ou borda de piquetes, presentes em seu trabalho ou uso diário.
Os cascos, boletos, machinhos, são extremidades que costumam ser mais afetadas, e como são zonas sensíveis no corpo do animal devem ser tratadas de imediato, para que no desenvolvam infecções complexas de serem tratadas.
O primeiro passo para sanear uma ferida sangrando é a limpeza completa do local, com os mesmos água limpa e fria e sabão neutro, detergente, agua oxigenada, etc.
A água fria ou gelada ajuda a contrair os vasos e estancar o sangramento.
Só com a ferida limpa, podemos avaliar sua extensão e eventual gravidade. Se for um corte profundo que exija pontos, deve-se acionar de imediato o veterinário. Enquanto ele não chega compressas de gase para pressionar o local e tentar conter o sangue.
Após os pontos, o Veterinário deverá recomendar um antibiótico e dependendo da situação do corte, do agente causador, uma dose de vacina anti-tetanica.
Se for superficial, depois de limpá-la com uma gaze limpa de dentro para fora volta-se a lavá-la com detergente e depois Iodopovidona,
Quando limpa e sem sangue, aplica-se as pomadas cicatrizantes como Alantol, ou Unguentos.No dia seguinte, sempre se deve lavar, higienizar novamente antes de aplicar mais pomadas.
O normal é que um machucado superficial possa mostrar sangramento leve por até meia hora, caso passe desse tempo, chame o Veterinário.
3. Lesões nas patas, boletos, tendões: prevenir é curar
Batidas, pisoteios, troca de coices no campo, animais a campo devem ser vistoriados diariamente. Batidas em obstáculos no treinamento, pisar em buracos no solo, podem causar distensões, estiramentos, inchaços de boletos.
Adotar algumas medidas preventivas pode reduzir os riscos do cavalo sofrer com lesões maiores e mais graves.
Por exemplo, o uso de ligas de descanso impede que os tendões fiquem intumecidos com liquido linfático, boleteiras, ligas de trabalho, são equipamentos necessários e de ordem preventiva.
Situação das mais comuns onde cavalos sofrem lesões nos inferiores é a do transporte. Cansamos de ver cavalos caríssimos, campeões em suas modalidades chegando a locais de prova sem condição de competir, perda de dinheiro, de oportunidades de valorizar ainda mais o animal, porque foi transportado sem qualquer proteção nas patas, cauda, etc. Essas ligas todos sabemos só podem ser usadas no máximo 12 horas seguidas.
Outros elementos são as capas. Los cascos, por sua vez podem ser seriamente lesionados se o cavalo, por falta de cuidado do cavaleiro ou tratador pisar em cima de cacos de vidro, pregos dobrados, ou materiais pontiagudos esquecidos ou jogados perto das baias, entre estas e o piquete ou arena.
Aí o risco de infecção é iminente e deve-se chamar o médico.
4. Tomar a temperatura
Cavalos tem febre de um dia para o outro.
O comportamento do cavalo passa muito rápido de normal a febril, principalmente nas viradas de tempo, no inverno, por um banho dado muito tarde sem que ele pudesse se aquecer fora da baia.
A febre, como para o humano, é um sinal de alerta infeccioso. Vistoriar todo o cavalo e descobrir a causa o quanto antes é fundamental.
Se estamos fora de casa, você pode ver a febre nos cascos, se não tiver termômetro, nas orelhas que se estiverem muito quentes pode ser febre, e para ter certeza devemos medir a pulsação em repouso. Batimentos acelerados também indicam anormalidade.
Neste caso, isola-se o cavalo e deve-se voltar para a sede da fazenda, ou rancho o quanto antes e ter certeza da febre com um termômetro retal.
Orelhas podem ainda estar aquecidas por outras coisas além da febre, só é seguro que se estiverem frias não tem febre.
5. Desidratação
Na hospedagem do cavalo, bebedouros automáticos e água fresca a vontade são mais importantes do que comida
A desidratação pode ser causada por oferta de água continuadamente menor do que a necessidade deles. Outra causa é o esforço intenso sob forte temperatura ou nas horas de sol mais escaldante, lembrando que moramos em zona tropical ou sub tropical.
Para saber se ele está desidratado deve-se beliscar a pele e se ela volta a posição normal bem rápido é porque está normal, mas se demora mais de três segundos para voltar ao normal, esse é um sintoma de desidratação. Nessa situação, além de oferecer água à vontade, se for pós esforço, deve-se ministrar entre dois a cinco litros de soro.
Bem, estes apenas alguns indicativos para o manejo seguro e preventivo dos casos mais comuns que encontramos no dia-a-dia das propriedades onde se criam ou hospedam cavalos.
Boas cavalgadas a todos lembrando sempre que ter um cavalo é fazer-se cargo de uma responsabilidade muito grande.
Fonte- Rancho São Miguel