Choro da Rainha, crise com Pessoa e égua brava: o hipismo na Rio 2016

Modalidade conta com elementos de sobra, gera expectativa, mas fica sem medalha

Por Diego Guichard, Danilo Sardinha e Bruno GiufridaRio de Janeiro

Sem sombra de dúvida, os conjuntos brasileiros empolgaram na Rio 2016. Mas se o gostinho de medalha chegou a aparecer, veio a queda brusca: qualquer possibilidade de conquista ficou para Tóquio, daqui a quatro anos. Seja nos saltos, adestramento ou concurso completo de equitação, não houve medalhista brasileiro. Mas emoção, essa veio com sobra.

Quem não chorou junto com Hortência, a Rainha do Basquete, quando ao vivo ao ver o filho João Vcitor Oliva estrear em Jogos Olímpicos deixou as lágrimas rolarem? E também teve fogo e indignação de Rodrigo Pessoa. Fora das disputas, disparou contra o treinador americano George Morris, a quem chamou de “lêndea”. No CCE, uma égua muito temperamental chamou a atenção e, da mesma forma que poderia dar uma medalha ao Brasil, complicou a situação da equipe.

saltos

Doda Miranda e Cornetto K

Doda Miranda e Cornetto K em ação na prova de saltos (Foto: Reuters)

INÍCIO PERFEITO 
Entre os Arcos da Lapa e o calçadão de Copacabana, em pista desenhada pelo brasileiro Guilherme Jorge. O caçula Stephan Barcha, o mais experiente Doda Miranda e Pedro Veniss passaram com zero falta, enquanto Eduardo Menezes perdeu quatro pontos por cometer uma única falta. A equipe brasileira tinha sido a melhor do dia, junto com a Alemanha, o que gerou um sentimento geral de otimismo por medalha.

ELIMINADO PELA ESPORA
Na manhã de terça-feira, o time brasileiro ficou na ponta na disputa por equipes com apresentações impecáveis de Doda Miranda, Eduardo Menezes e Pedro Veniss. Mas teve uma baixa de peso:Stephan Barcha foi desclassificado por ter utilizado a espora demais no dorso do cavalo, o que criou um pequeno machucado na montaria.

EM QUINTO GERAL
Os brasileiros ficaram com o quinto lugar na disputa por equipes dos saltos e acabaram fora do pódio. A França levou o ouro; os Estados Unidos, a prata, enquanto a Alemanha fez uma disputa extra contra o Canadá, após empate no primeiro percurso, e ficou com o bronze.
Sem Barcha, o quarto membro do time, o Brasil perdeu a chance de descarte do pior resultado. Só que os três brasileiros derrubaram um obstáculo na final, sem contar a penalidade porque Veniss excedeu o tempo, totalizando 13 pontos perdidos. A quinta colocação não pode ser considerada ruim, mas ficou aquele sentimento de que poderia ter alcançado pódio.

O final das provas de salto por equipe terminou com polêmica. Ao cruzar a zona mista, o cavaleiro Doda Miranda disse que Rodrigo Pessoa, que ficou fora da Olimpíada, corria o risco de “passar vergonha” em Deodoro. Por sua vez, o medalhista de ouro preferiu atacar outro alvo: o técnico americano George Morris, a quem chamou de “lêndea” (nome dado ao ovo do piolho e que também significa aquilo que é muito pequeno, insignificante) ao lamentar sua postura e questionar sua contribuição.

BRITÂNICO SURPREENDE
Embora nem tenha se classificado para as fases finais por equipe, foi a Grã-Bretanha que surpreendeu nas decisões dos saltos. Nick Skelton, um senhor de 58 anos surpreendeu a todos ao viver uma sexta-feira irretocável com o cavalo lendário “Big Star”. Eles foram perfeitos desde a primeira passagem. A grande decisão seria apenas no desempate (jump off), diante de cinco conjuntos rivais. Skelton e Big Star novamente não erraram. Melhor brasileiro, Doda Miranda encerrou em nono.

Nick Skelton

Nick Skelton é brilhante com Big Star na final e leva o ouro individual (Foto: REUTERS/Tony Gentile)

 Adestramento

Charlotte Dujardin levou o ouro

Charlotte Dujardin levou o ouro no adestramento (Foto: REUTERS/Tony Gentile)

CAÇULAS DO ADESTRAMENTO
Pela primeira vez na história, o Brasil chegou à modalidade com uma equipe completa. E o time montado foi bastante jovem. Com média de 21 anos, a equipe brasileira foi a mais jovem dentre as que competiram na Rio 2016. Luiza Almeida (24 anos), Pedro Almeida (22), João Victor Oliva (20) e Giovana Pass (18) foram os integrantes do time.

A jovialidade da equipe pesou em um esporte disputado geralmente por veteranos. Para os brasileiros, chegar à semifinal seria como a conquista de uma medalha. Mas essa medalha não veio. Na disputa por equipes, o Brasil ficou na décima colocação e não avançou à semi. No individual, os brasileiros também saíram na fase classificatória. João Victor terminou na 46ª colocação (68,071%), Giovana Pass na 47ª (67,700%), Luiza Almeida na 49ª (66,714%) e Pedro Almeida na 53ª (65,714%).

luiza almeida 24 anos

Luiza Almeida, aos 24 anos, foi a mais velha da equipe de adestramento do Brasil em 2016 (Foto: Liz Gregg/FEI)

EMOÇÃO DA RAINHA 
Enquanto estava na Arena Carioca 1 para comentar a partida entre Brasil e Croácia, pela rodada do basquete masculino, a Rainha Hortência acompanhava atentamente o segundo dia da fase classificatória do hipismo adestramento. O filho da ex-jogadora, João Victor Oliva, estrearia nos Jogos Olímpicos naquele dia. Ela, sem poder estar presente no Centro Olímpico de Hipismo, assistiu à apresentação pelo celular. Ao ver o filho, emocionou-se ao vivo durante a transmissão do jogo de basquete.

AMOR PELO ADESTRAMENTO
Charlotte Dujardin é uma das estrelas do hipismo adestramento. Campeã individual e por equipes na Olimpíada de Londres, a britânica de 31 anos veio ao Rio de Janeiro em busca do bi olímpico. Na disputa por equipes, não deu. A Alemanha, que tinha ficado com o vice em 2012, deu o troco na Grã-Bretanha e levou o ouro. Mas na competição individual, Dujardin fez bela apresentação, encantou o público e, com média 93,857%, conquistou a segunda medalha de ouro consecutiva. Em entrevista ao GloboEsporte.com, Charlotte Dujardin contou qual o segredo para o sucesso na modalidade.

MULHERES NO COMANDO
O hipismo é um esporte em que homens e mulheres competem juntos. Das três modalidades do hipismo, o adestramento é a que concentra mais mulheres. E elas não fizeram feio na Rio 2016. Pelo o contrário. Na disputa individual, o pódio foi formado apenas por mulheres. A britânica Charlotte Dujardin levou o ouro e as alemãs Isabell Werth e Kristina Broring-Sprehe ficaram com a prata e o bronze, respectivamente.

CCE

Jessica Phoenix e A Little Romance

Jessica Phoenix e A Little Romance (Foto: Reuters)

O INIMIGO MORA AO LADO
No CCE, a seleção brasileira é comandada pelo neozelandês Mark Todd, bicampeão olímpico e considerado uma lenda da modalidade. Curiosamente, o atleta foi um forte adversário do Brasil na busca por uma medalha no Rio de Janeiro. No hipismo, porém, você não depende da estratégia de seu concorrente para ter sucesso: basta fazer o seu melhor e ser melhor que os outros.

ÉGUA TEMPERAMENTAL
E vocês acham que é só ser humano que é temperamental e tem fases? Enganaram-se! No time brasileiro de hipismo CCE, também há uma égua temperamental, mas muito talentosa. Ela é a Lissy Mac Wayer, montada pelo cavaleiro Marcio Jorge. Na prova de adestramento, por exemplo, eles estavam indo muito bem e ficariam entre os cinco melhores, mas Lissy ficou brava no meio da apresentação e complicou a situação do conjunto brasileiro.

MELHOR RESULTADO
O sétimo lugar no Rio de Janeiro foi o melhor desempenho do Brasil em uma Olimpíada no CCE. Em Londres, a equipe ficou em nono lugar. A expectativa era de uma medalha, mas, mesmo assim, a colocação foi comemorada pelos atletas.

IMPREVISTOS
Se não fossem alguns problemas pontuais, como a égua brava de Marcio Jorge, o desempenho brasileiro poderia ser melhor. Quem também surpreendeu negativamente foi o experiente Ruy Fonseca. Além de ter ido mal no adestramento e no cross country, o cavaleiro caiu durante a prova de saltos e foi eliminado.

Fonte: Globo

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